18 de dezembro de 2013

Vogue põe Marisa na roda, mas só se for hi-lo

O que é uma boa edição de moda, não é verdade? A Vogue Brasil, em parceria com a Marisa — o magazine de fast-fast-fashion baratinho que tem em tudo que é shopping —, lançou na edição de dezembro da revista um suplemento só com ideias mil para fazer "o hi-lo perfeito para o réveillon" e curtir o verão sem gastar aquelas fortunas que a própria Vogue te incita a gastar durante o ano todo. É um apanhado de praticamente tudo o que tem na Marisa para as bonitas: roupas, acessórios e lingerie. A revista, obviamente, aposta em um life style no clima alto luxo, mas com as peças de baixo custo da Marisa. A edição de moda — liderada pelo Giovanni Frasson — é tão impressionante que é de se arregalar os olhos e pensar: esse vestido é da Marisa?
Imagem: Reprodução/Vogue Brasil

Que venha o apedrejamento, mas, tratando-se de Vogue, a única alternativa da revista era transformar fast-fashion em talk-of-the-town, nem que seja só por uma perspectiva visual. Claro também que, a revista deixa muito bem definida a posição que a Marisa tem na linha editorial. Trata-se de um suplemento — pago! — e ainda assim, a atmosfera logo proposta na capa (acima) é a do hi-lo. Ou seja: "bonita, você pode até achar uma peça da Marisa fofinha, mas vamos dar um passeio ali no luxo pra segurar o look?".

E esta é a proposta da edição de moda da revista. Na capa, um vestido lindíssimo da Marisa, sustentado por joias de Marisa Clermann e Rosana Chinche. Quando é a vez das voguetes dizerem o que é indispensável no guarda-roupa, Marisa disputa a mesma página com Chanel, Lanvin, Hermès, Michael Kors, Louboutin, Isabel Marant, Givenchy, Nars, Kérastase, Chloé, Ray-ban, Missoni, Dolce & Gabbana...
Imagem: Reprodução/Vogue Brasil
O editorial principal — que na verdade é dividido em quatro intenções — mostra uma mulher que segue uma rotina usando majoritariamente Marisa, mas toda emperiquitada com ouro, diamantes e outras pedras preciosas. Acordar, trabalhar, malhar e jantar fora é a aventura desta compradora de Marisa chique, que usa fast-fashion combinado com Tiffany & Co., Calvin Klein, Burberry e Cartier.
Imagem: Reprodução/Vogue Brasil
Toda a revista segue este ritmo. E quando não há uma grande marca dando suporte ao look, lá está o life style da leitora ideal da Vogue tomando conta. Magérrima, com luzes perfeitas nos cabelos, um bronzeado de dar inveja e uma lindíssima paisagem de praia — deserta, claro — ao fundo. Ir à praia, usando um biquini da Marisa, só com o Vogue way of life!

31 de março de 2013

Como nos 90's: Logos gigantes nas roupas são mania (de novo)


Há pouco tempo, escrevi por aqui que os anos 1990 estavam de volta! É parece que estão mesmo! Se você nasceu entre 1975 e 1985 deve lembrar que, na sua adolescência e juventude, eram febre moletons e jaquetas como esta abaixo. Um baita Hard Rock Cafe bordado para todo mundo ver quem era quem no ensino médio — Científico, pra mim. Até as cópias falsificadas eram caras! Aliás, os anos 1990 foram marcados pelas falsificações, já que as marcas eram tão expostas.
Foto: Reprodução
Pois bem... Estamos prontos para reviver aqueles momentos. A Harper's Bazaar publicou uma nota em seu site, mostrando que o bacana agora é carregar aqueles nomes gigantescos de grifes estampados nas roupas. As fashionistas (novos nomes para as fashion victims) estão enlouquecidas mostrando seus moletons Kenzo, Céline e todas as outras... Sinais de uma época que está voltando!
Foto: Reprodução
Qual era a verdadeira razão de se usar marcas tão bem estampadas e visíveis assim nos anos 1990? O motivo era mostrar mesmo que "eu uso um moleton dessa marca, pois pertenço ao grupo de pessoas que podem fazer isso". Mas por que tanta necessidade de diferenciação social? Aí, eu levanto dois possíveis motivos:

1) Nos anos 1950, você se diferenciava por ser rico e pomposo; nos anos 1960, você se diferenciava por ser jovem; nos anos 1970, você se diferenciava por ser unissex; nos anos 1980, você se diferenciava porque era parte de uma tribo... Mas nos anos 1990, essas tribos começaram a se misturar demais e as influências se cruzavam... Não bastava ser de uma tribo para ser diferente. A diferenciação tinha que voltar a vir pelo fator financeiro e, como a pompa não era nada confortável, a solução era dar status às peças da linha casual (kéjuól! hehe), com aqueles grandes símbolos e letras dizendo: sou casual, mas posso mais do que você!

2) O muro de Berlim cai em 1989! É hora de experimentar uma nova vida, compartilhar um novo mundo em que o capitalismo venceu! Então, vamos às compras e vamos mostrar para todo mundo o que compramos! Mais: o mundo agora é globalizado! Vamos usar o que vem de fora [até porque há uma enorme leva de produtos nacionais querendo se estabelecer no Brasil, mas chique mesmo é ter coisas importadas!!!]! E lá vieram as falsificações para tentar nivelar todo mundo naquele mesmo embate que fez nascer o conceito de moda: quem tem mais faz primeiro, quem tem menos copia depois!

Então, qual seria a razão para, agora, voltarmos a estampar as marcas? Vale a pena competir com a fabricação de cópias perfeitas feitas pelos chineses? Estamos só reproduzindo os anos 1990, sem acrescentar mais nada? Ou a moda é que está sendo vítima das blogueiras (as tais fashionistas) que precisam de fato dizer quem são para lucrar mais e mais? Vale a pena (o preço!!!) carregar um grande outdoor e pagar caro por isso? É essa a moda que queremos? Se for, tudo bem!

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Na Bazaar: A volta da logo mania

27 de março de 2013

Para além da fofura das bonecas fashionistas


O portal de moda da Abril — ModaSpot — publicou uma nota com um detalhe da exposição da Dior na Harrods. A notícia fala de miniaturas de vestidos icônicos da grife, que estão expostas junto a vestidos em tamanho real, vídeos, bolsas e perfumes da grife. As miniaturas, segundo a nota do ModaSpot, são "reproduções de peças icônicas da maison, que vão da época do New Look até as recentes criações de Raf Simons".
Fotos: Reprodução
De fato, uma gracinha! Mas senti falta de ser abordado um assunto que seria bem interessante de ser tratado para aprofundar no tema das bonecas e enriquecer o conhecimento de moda das leitoras. Miniaturas de roupas vestidas em bonecas foram muito mais úteis do que se imagina. Antes do advento da imprensa, era o transporte de bonecas que garantia que as novidades de Paris alcançassem outros lugares.

Segundo Daniel Roche, as bonecas eram feitas de cera, madeira ou porcelana e viraram peças de coleção entre as "fashionistas" da época — entenda como "época" algo antes do século XVII e por "fashionistas" as granfinas de fora e de dentro de Paris. Como as roupas eram feitas de tecido mesmo, pouca coisa ou quase nada sobrou para ser visto ainda hoje. É preciso entender também que, como a moda sempre foi mutável, é possível que as mesmas bonecas fossem usadas nas trocas de coleção e os minivestidos descartados. Uma verdadeira pena...

Com a chegada da imprensa e da difusão mais facilitada de informações e ilustrações de moda nas revistas e, posteriormente, do uso da fotografia, as bonecas pararam de circular.

Viu como dá pra tirar um pouco mais de conhecimento de uma notinha despretensiosa do ModaSpot? O pensamento deve ser sempre este: refletir para além do que está escrito, aprofundando discussões!

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No ModaSpot: Dior exibe miniaturas de vestidos icônicos em exposição na Harrods

22 de março de 2013

Vogue Brasil de março celebra a volta dos anos 1990

Escrevi, recentemente, um post no blog do CES (agora sou professor do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora) e transcrevo abaixo. Ficou bem bacaninha, eu acho. É sobre a Vogue e sua aposta nos anos 1990. Divirta-se!

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A capa repleta de informações (abaixo) pode até não deixar muito claro, mas a mensagem primordial da edição de março de 2013 Vogue Brasil é a celebração à volta dos anos 1990. Basta folhear as primeiras páginas de conteúdo jornalístico para perceber que a vibe é acreditar no que foi moda há 20 anos. O decorativismo das temporadas passadas perde a força de vez, sendo substituído por uma experiência visual mais limpa. Tudo para indicar a volta de um minimalismo próprio da década de 1990.
Imagem: Reprodução/Vogue Brasil
O cinza — em seus muito mais de 50 tons — foi eleito o “neutro da vez”. O smoking — mesmo que desconstruído — é apelidado de “coqueluche” e toma seu lugar em produções noturnas. As t-shirts perdem estampas e bordados e deixam de ser usadas com aquela saia mais fofa. Agora, a peça é feita de materiais sofisticados e esculpida sob os preceitos da alfaiataria.

A revista aposta num minimalismo sexy, inspirado na cruzada de pernas de Sharon Stone em Instinto Selvagem. Tons neutros e cortes estratégicos foram clicados por J.R. Duran no editorial Invasão de privacidade. De novo com o mood do trabalho dos alfaiates.
Imagem: Reprodução/Vogue Brasil
Se mesmo diante de tamanho bombardeio de neutralidade ainda houver espaço para alguma profusão de estampas e sobreposições improváveis — como os mixes de padrões muito desfilados por Miroslava Duma e suas coleguinhas blogueiras russas —, a resposta está nos anos 1990: o crash printing agora é grunge. E a inspiração, por razões óbvias, a inconfundível moda lançada por Kurt Cobain à frente do Nirvana. O editorial Puro Nirvana fala por si.
Imagem: Reprodução/Vogue Brasil
A coluna de arte indica a exposição NYC 1993: Experimental Jet Set, Trash and No Star, cujo principal tema é o ano de 1993. O texto de Nô Mello ajuda a entender porque a década está de volta e com tudo: “Em geral é esse o espaço de tempo necessário para que a distância provoque alguma nostalgia.” Pode até não ser cientificamente provado — ou talvez seja —, mas na primeira década dos anos 2000, estávamos todos loucos pelos anos 1980.

Já que tudo indica, é bom dar as boas vindas aos anos 1990.

15 de fevereiro de 2013

Marie Claire chama queda de meteorito que feriu mais de 950 na Rússia de "espetáculo"

Foi um "espetáculo" a queda de um meteorito que deixou mais de 950 pessoas feridas na Rússia, segundo a fanpage da revista Marie Claire no Facebook. A página usou o que chamou de "chuva de meteoros" para chamar uma matéria sobre óculos escuros. "Tá todo mundo falando da chuva de meteoros que caiu na Rússia. Mas conta pra gente: com qual desses óculos você assistiria a esse espetáculo?", escreveu-se como legenda da foto que trazia um par de óculos escuros.
Reprodução: Facebook
Realmente, é difícil imaginar como pode alguém acreditar que esta seria uma boa estratégia para chamar uma matéria sobre óculos escuros. É sabido que a imprensa — até a de moda — usa assuntos polêmicos, catástrofes e coisas parecidas para conseguir leitores, mas desta vez a apelação foi demais. Só me resta acreditar que a pessoa responsável pelo Facebook não sabia do número de feridos (o que também é um absurdo, já que para lidar com rede social na internet, o conhecimento da atualidade é indispensável).

Assim que a chamada foi postada, apareceram comentários criticando a publicação. De fato, chamar de espetáculo um evento que deixa inúmeros feridos e hospitaliza 112 pessoas, entre elas cerca de 80 crianças, é muita falta de traquejo jornalístico. Bom que a revista fica esperta e entende que nem sempre vale tudo por um clique. A imagem, obviamente, já foi removida do Facebook da Marie Claire, que sequer pediu desculpa pela publicação descabida.

Na Vogue deste mês — fevereiro —, há uma matéria que caminha para esse apelo à desgraça. A coluna Vogue Repórter deu espaço a "fashionistas" (sim, foi esta a palavra usada) brasileiros que moram em Nova Iorque para falarem sobre como enfrentaram o furacão Sandy. Foram publicados textos de Henrique Gendre, Tatiana Abraços, Lais Ribeiro e Aline Weber. Uma forma de aliar moda e catástrofe. Mas claro, nada que se compare com a derrapada da Marie Claire.

25 de janeiro de 2013

Semana de Moda de Paris: de olho no street style

Nesses últimos dias que se passaram ocorreu a Semana de Moda de Paris, marcada por dias frios e pelos incríveis desfiles nas passarelas. Claro que todos as apresentações oficiais foram dignas de cobertura por todos os sites das revistas de moda. Não era de se esperar diferente. Mas, mostrando sua imensa capacidade de persuasão, a rua foi pauta certeira nas versões brasileiras da Vogue e Harper's Bazaar.
Foto: Ana Clara Garmendia
Que o street style é alucinantemente bem aproveitado pela internet é fato. Ver que é possível usar aquela roupa absolutamente esquisita e ficar uma belezura, já que fica lindo na Miroslava Duma, é sensacional. O caso é que a questão é maior que só a usabilidade de uma peça cheia de referências trendy nas ruas. Dá pra gente produzir algum raciocínio com isso!

A conversa entre a rua (a cidade) e a moda acontece há muitos e muitos anos. A cidade, como a conhecemos hoje é fruto da Modernidade. Quando as pessoas — lá do final do século XVII — perceberam que, ao estar na cidade, era preciso dividir o espaço com estranhos e parecer ser aquilo que você realmente era (ou, pelo contrário, parecer ser o quem você queria que pensassem quem você era), a preocupação com as roupas adequadas a cada mensagem que se pretendia passar foi sendo maior.

A cidade era — e certamente ainda o é — um verdadeiro teatro. Ter uma reputação é ser conhecido, reconhecido e singularizado. E é possível conseguir esses objetivos com a roupa. Intensificar os contrastes entre quem era da "boa sociedade" e quem era só um plebeu menos abastado, era preciso. Por essa razão, a rua acabou sendo uma verdadeira vitrine daquilo que se estava na moda. Claro, ainda não como uma apresentação de tendências, mas com uma imensa capacidade de influenciar a moda, dependendo de quem fosse fotografado. Já nas primeiras revistas de moda em que foram publicadas fotos era possível ver os disparos de street style, que eram chamados de "instantâneos".

A evolução da moda de rua foi tamanha que, em certo momento, mesmo os criadores da alta-costura, aqueles que estavam acostumados a ditar as tendências do que seria usado nas ruas, viram a necessidade de observar o street style para se diferenciar. Karl Lagerfeld foi um dos primeiros a introduzir o jeans em uma coleção de alta-costura, segundo Guilhaume Erner. Para Dior, John Galiano misturou um modelo com saias ultravolumosas sobreposto por um casaco com zíper, inspirado nas ruas.

Acontece que as personagens das ruas — principalmente essa infinidade de blogueiras e editoras de moda que são clicadas nos sites de street style — usam, exatamente, as peças do prêt-à-porter nascidas, também, a partir da alta-costura. Afinal, quem está influenciando quem?

Fato é que as revistas de moda sabem o poder que tem as ruas e usam o street style para chamar seu público. E são muito felizes com as publicações!

Links relacionados
Na Vogue: Streetstyle: os melhores casacos da semana de couture em Paris
Na Bazaar: Alta-costura: o melhor do streetstyle da semana de moda de Paris

24 de janeiro de 2013

Vogue Brasil de fevereiro tem quatro capas diferentes

E agora? Como é que a gente faz? A Vogue Brasil resolveu fazer uma edição diferente em fevereiro. Contratou Anna Dello Russo — a editora da Vogue Japão que se veste absolutamente trendy e exagerada — e o fotógrafo Giampaolo Sgura para trabalhar em todos os editoriais. O resultado? As editoras da Vogue Brasil ficaram tão divididas entre qual dos "Pontos de Vista" é o mais interessante que resolveram editar quatro capas diferentes! A promessa é de sucesso!
Magdalena Frackowiak e Izabel Goulart (Foto: Vogue Brasil)
Mirte Maas e Bette Franke  (Foto: Vogue Brasil)
Magdalena Frackowiak, Izabel Goulart, Mirte Maas e Bette Franke estrelam as capas. Tudo muito exagerado, como manda a estética de Anna. As revistas já estão nas bancas.

Visualmente, as propostas das capas são bem diferentes. Nem sei se cabe entrar na discussão sobre cada uma delas. Seria muita descrição para abarcar tanta visualidade já exposta.

Mas ainda podemos considerar algumas análises. Todas as capas têm as mesmas chamadas. Uma, a maior, celebrando o dedo de Anna Dello Russo na edição; outra, dizendo que a issue é especial por causa do Giampaolo Sgura; e a terceira, propondo uma atualização de moda e apontando tendências vindas de David Bowie, Kurt Cobain e YSL — ou o grunge e o boho, nas outras variações. A chamada Fashion Update faz lembrar a chamada principal da Vogue de setembro de 2012, para o editorial com Carol Trentini que mostrou os melhores looks do verão brasileiro e do inverno no hemisfério norte. Ou seja: podemos esperar alguma matéria com o "entra e sai" do guarda-roupa.

Interessante é notar como a Vogue conversa com um público que entende de moda. Só esse público interessa à Vogue. O leitor que vê o nome Anna Dello Russo, olha as fotos e pensa: "Só podia ser ela".

Agora é esperar a revista chegar aqui em casa. Qual capa vem para os assinantes? Eu adoraria que fosse a da Magdalena Frackowiak! Gostei demais!

Link relacionado
Na Vogue: As quatro capas da Vogue Brasil para fevereiro, assinadas por Giampaolo Sgura